Era noite. Junto ao mar de Tiberíades, os discípulos de Jesus estavam “curtido” um estado de inércia, talvez ainda uma dúvida do que deveriam fazer, para onde ir, o que falar... sentiam a ausência do Mestre, que, depois da ressurreição, aparecia e sumia, lembrando o Mestre dos Magos (os mais antigos entenderão). Não quero aqui julgar o comportamento deles. Muita coisa havia acontecido nas últimas semanas, o que os deixavam paralisados, confusos e inseguros.
Estavam todos calados, olhando para o mar, então Pedro quebra o silêncio e recorre à solução clássica para os momentos difíceis da vida, e disse: “Sabe de uma coisa, vou pescar”. Os outros seis gostaram da ideia e foram com ele. Mas a noite não estava para peixe. Mesmo sendo pescadores experientes, o sol já estava chegando e não haviam pegado nada.
Mortos de fome e frustrados com a pescaria, ouviram alguém gritando lá da praia. Era Jesus perguntando se haviam pegado alguma coisa para comer. Responderam que não. E Jesus gritou mais uma vez, dizendo: “Joguem a rede à direita do barco e vocês acharão!” Embora não tivessem reconhecido o Mestre, tentaram mais uma vez e jogaram a rede conforme Jesus havia falado. Vendo que a rede estava tão pesada que não conseguiam tirar da água, em meio a euforia, João diz: “É o Senhor!” Pedro, mais eufórico ainda, se enrolou na sua túnica e se jogou no mar! Esqueceu que teria que nadar quase cem metros até a praia, mas deu tudo certo.
Era dia. Chegaram na praia, Jesus havia preparado uns peixes assados sobre a brasa, pães para acompanhar e disse: “Tragam alguns peixes que vocês acabaram de pegar e venham comer comigo”. Ninguém tinha coragem de perguntar: “Quem é você?” Porque sabiam que era o Senhor.
Ser discípulos de Jesus e cumprir a missão que nos foi dada, implica em passar por momentos de fome e escuridão. A noite nos lembra de inseguranças, de dúvidas e de fraquezas. A noite revela nossa falta de competência e autonomia. Mesmo trabalhando tão duro, a rede continua vazia. Mas a luz do sol rompe o céu escuro, em pinceladas de vermelho, laranja, amarelo e azul. A voz do Logos, o Verbo vivo, encarnado e ressurreto é ouvida. Somos orientados por Jesus. Ele diz onde e o que devemos fazer. Somos alimentados por Jesus. Ele já tem peixe assado e pão fresco. O que pescamos em nossas redes, foi por causa de Jesus, foi Ele quem nos deu. Resumindo, tudo vem dEle, por Ele e para Ele.
O Reino de Deus não é sobre competência e autonomia, mas dependência e obediência. Que Ele cresça e que eu diminua. Ao que está vivendo em tempos escuros da noite, que venha o dia e celebre, dizendo: “É o Senhor!”